Brasil, 29 de setembro de 1988: o piloto Fernando Murilo de Lima e Silva comandava o voo 375 da VASP, em um dia aparentemente comum. O que ele não sabia era que as atitudes de Raimundo Nonato Alves da Conceição, inconformado com o governo do presidente José Sarney, colocariam todos os membros da tripulação e passageiros em risco: ao anunciar um sequestro em pleno ar, Nonato tinha a intenção de chocar o avião contra o Palácio do Planalto, em Brasília, assassinando o governante do país e tirando a vida de todos a bordo da aeronave.

Este é apenas o início da história do thriller brasileiro "O Sequestro do Voo 375", que estreia nesta quinta-feira (7) nas telonas do país. A superprodução é fruto de uma parceria entre o Estúdio Escarlate e a Star Original Productions, selo da Disney voltado para o cinema nacional.

Desde suas primeiras exibições no país, como a que aconteceu durante a noite de encerramento do Festival do Rio deste ano, o filme vem recebendo elogios por suas cenas de ação, produzidas de forma inédita no Brasil. Durante coletiva de imprensa, o diretor Marcus Baldini comentou o resultado e a recepção do público:

"Esse avião está no ar, as pessoas se sentem sensorialmente ali dentro, e temos reações muito diferentes da plateia: gente gritando, chorando, sorrindo… e isso tem um lugar lúdico muito interessante", explicou o cineasta.

Para recriar as cenas a bordo, nas quais o piloto Murilo realiza manobras radicais e deixa todos os passageiros de cabeça para baixo, uma carcaça de um antigo avião foi utilizada. Além disso, uma estrutura externa garantia que a fuselagem (ou corpo da aeronave) girasse em várias direções, submetendo todo o elenco a condições bem semelhantes às vividas pelos reféns, na ocasião:

"A gente comprou um avião, o desmontamos com a ajuda dos mecânicos da VASP, colocamos em três caminhões, atravessamos o país, e remontamos várias vezes. Ele tinha uma técnica playmobil, que o Rafael Ronconi, diretor de arte, fez: você tirava pedaços do avião pra poder encaixar a câmera", contou Joana Henning, produtora do projeto que vem sendo desenvolvido há sete anos.

"Esse filme prova que a gente pode fazer todo tipo de cinema. É um filme que merece ser considerado um marco do cinema nacional", afirmou Juliana Alves, que dá vida à comissária Cláudia no longa. "É uma produção ambiciosa, e as pessoas vão enxergar isso. Eu acredito que muita coisa parecida poderá ser produzida a partir daí, porque as pessoas vão ver que é possível", completou Jorge Paz, intérprete de Nonato.

Além de técnicas inéditas, que elevam a ação a níveis altíssimos, a dinâmica entre os personagens ajuda o público a se envolver com a história. As cenas entre Jorge Paz e Roberta Gualda, que interpretam o sequestrador Nonato e a controladora de voo Luzia, respectivamente, são prova disso:

"[A Luzia] tem um papel chave nessa história, o de conseguir chegar no Nonato, e segurar as pontas com o Murilo", concluiu Gualda. Para o diretor, esse trio ajuda a fazer com que a história se desprenda da "lógica maniqueísta, de mocinho e vilão", e construa a complexidade dos personagens em tela.

"Se esse filme de fato emplaca uma bilheteria agora, a gente consegue ter um case de cinema nacional possível, porque talento não falta (...) é um filme de ação cheio de passionalidade, e eu acho que o equilíbrio está muito bom nesse sentido", acrescentou Joana.

O longa ajuda a honrar a memória do comandante Murilo, vivido por Danilo Grangheia na produção. Falecido em 2020, ele se tornou um herói nacional, evitando a morte dos passageiros e pousando a aeronave da extinta companhia aérea brasileira em segurança:

"Essa humanidade está em comunhão com a grandiosidade do filme. Eu acho que ele gera essa empatia porque as coisas estão encaixadas em boas proporções", opinou Danilo.

Na conclusão do longa, um fato surpreendente: embora tenha ocorrido mais de uma década antes, o crime cometido por Nonato e seus desdobramentos influenciaram o 11 de setembro de 2001, como é conhecido o atentado terrorista às Torres Gêmeas, nos Estados Unidos. Autoridades que desmontaram o bunker de Osama Bin Laden, líder da Al-Qaeda e responsável por arquitetar o plano em questão, encontraram recortes de jornal que descreviam o sequestro do voo 375, espalhados pelo esconderijo do terrorista.

Joana Henning acredita que, caso o crime nacional tivesse sido mais discutido à época, algumas outras tragédias poderiam ter sido evitadas:

"O governo americano veio ao Brasil, depois do 11 de setembro, pra mapear como a defesa do espaço aéreo era feita aqui, para que eles pudessem corrigir o sistema deles. Talvez, se a gente tivesse valorizado essa história, poderíamos ter antecipado a obrigatoriedade de portas blindadas nas aeronaves da Boeing, antecipado a obrigatoriedade de raio-x em todos os aeroportos e evitado alguns acidentes, como o do 11 de setembro", cogitou a produtora.

Com roteiro de Lusa Silvestre e Mikael de Albuquerque, "O Sequestro do Voo 375" ainda tem um elenco formado por Gabriel Godoy, César Mello, Wagner Santisteban, Arianne Botelho, Diego Montez, Johnnas Oliva, Adriano Garib e Claudio Jaborandy. A superprodução já está em cartaz nos cinemas - garanta o seu ingresso por meio do nosso site ou app.

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